Thursday, April 28, 2011

"Tal e Qual"

Já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.


Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.












E depois mostrar-nos o que há-de vir, muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor, que nos faz seguir viagem, sem paragem nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins e na aula descer abismos e fazer dos abismos descidas de recreio e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível, atrevidamente e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito, poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira para tudo?
Tu Só, loucura, és capaz de transformar o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão, tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar, a quem te as vier buscar.

Reconhecimento à Loucura
Almada Negreiros