Friday, December 31, 2010

Próprias Mãos

Tropeçamos nas próprias mãos, levantamos os pés do chão, sublimamos e matamos, a fantasia é uma psicopata, a realidade, ainda assim, é sempre mais fantástica.
CaLua

Monday, December 27, 2010

Uma Espiã.

"Ela tinha de voltar a delinear o rosto, alisar as sobrancelhas ansiosas, separar as pestanas unidas, apagar os traços de secretas lágrimas interiores, acentuar a boca como numa tela, para que ela conservasse o seu sorriso exuberante. O caos interior (...) esperava por detrás de toda a desordem por uma fenda por onde explodir."
Anais Nin

...uma espiã na casa do amor

Tuesday, December 07, 2010

Tropeços

Tropeçei de Frase em frase e encontrei trilhos de margens soltas de linhas e fiz um caminho.
E este Caminho não é uma Auto-estrada... mas é uma estrada fantástica, cheia de curvas e contra-curvas, subidas e descidas, paragens e arranques. E em cada curva, uma surpresa, um lobo mau, uma fada, uma borboleta amarela, um leopardo negro, um companheiro...
Pior do que não terminar o caminho é nunca partir e dar o passo. A Vida não é a simples respiração contínua mas são os momentos capazes de nos tirar o fôlego.


Não quero viver de fantasias e sim de realidades fantásticas.

Mais importante do que encher a minha mala de dinheiro ou matéria é levar dentro dela os meus olhos e a curiosidade suficiente para saber ver. A forma como caminhamos ensina-nos que existem “Estações” de felicidades e que a “Felicidade” não é uma “Estação” estanque.
Caminhando, se faz o Caminho. A Tua Vida é o Caminho, não o contrário.
Vamos caminhar e Ser quem somos... sem mais nada.
Por recantos e cantinhos que conheço e desconheço, há tanto tempo, ver-me assim, a caminhar, percebo que um “Pequeno Tropeço Pode Impedir Uma Grande Queda”, e caminho.
Se não levo dentro de mim a beleza do Mundo, nunca a encontrarei por mais que caminhe, e por isso é necessário parar de sonhar e, de algum modo, partir. A pobreza não tem bagagem, tem a riqueza da mente humana que a natureza nos deu, porque a Vida é o caminho e não o contrário. Uma coisa é pensar que estou no caminho certo, outra é saber que o Meu caminho é Único.

CaLua

Thursday, December 02, 2010

O Corvo

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste, Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia. O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
«Uma visita», eu me disse, «está batendo a meus umbrais.
É só isso e nada mais.»
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro, E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais. Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada. P'ra esquecer (em vão) a amada, hoje entre hostes celestiais — Essa cujo nome sabem as hostes celestiais, Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo, «É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isso e nada mais».
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante, «Senhor», eu disse, «ou senhora, decerto me desculpais; Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo, Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais, Que mal ouvi...» E abri largos, franquendo-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais — Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isto só e nada mais.
Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo, Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais. «Por certo», disse eu, «aquela bulha é na minha janela. Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.» Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
«É o vento, e nada mais.»
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça, Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais. Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento, Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais, Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura. Com o solene decoro de seus ares rituais.
«Tens o aspecto tosquiado», disse eu, «mas de nobre e ousado, Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais! Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.»
Disse-me o corvo, «Nunca mais».
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro, Inda que pouco sentido tivessem palavras tais. Mas deve ser concedido que ninguém terá havido. Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais, Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome «Nunca mais».
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto, Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais. Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento Perdido, murmurei lento, «Amigo, sonhos — mortais. Todos — todos lá se foram. Amanhã também te vais».
Disse o corvo, «Nunca mais».
A alma súbito movida por frase tão bem cabida, «Por certo», disse eu, «são estas vozes usuais.
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono. Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais, E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este «Nunca mais».
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura, Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais; E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais, Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele «Nunca mais».
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais, Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-me então o ar mais denso, como cheio dum incenso. Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais. «Maldito!», a mim disse, «deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais, O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».
«Profeta», disse eu, «profeta — ou demónio ou ave preta! Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais, Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais, Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».
«Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!, eu disse. «Parte! Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais! Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda. No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais. Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha, E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais, E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais,

Libertar-se-á... nunca mais!

Fernando Pessoa(1888-1935)
"O Corvo", poema de Edgar Allan Poe traduzido por Fernando Pessoa

Wednesday, December 01, 2010

Decompor a Sensação...

Toda a arte se baseia na sensibilidade, e essencialmente na sensibilidade.
A sensibilidade é pessoal e intransmissível.
Para se transmitir a outrem o que sentimos, e é isso que na arte buscamos fazer, temos que decompor a sensação, rejeitan...do nela o que é puramente pessoal, aproveitando nela o que, sem deixar de ser individual, é todavia susceptível de generalidade, portanto, compreensível, não direi já pela inteligência, mas ao menos pela sensibilidade dos outros.


Este trabalho intelectual tem dois tempos: a) a intelectualização directa e instintiva da sensibilidade, pela qual ela se converte em transmissível (é isto que vulgarmente se chama "inspiração", quer dizer, o encontrar por instinto as frases e os ritmos que reduzam a sensação à frase intelectual (prim. versão: tirem da sensação o que não pode ser sensível aos outros e ao mesmo tempo, para compensar, reforçam o que lhes pode ser sensível); b) a reflexão crítica sobre essa intelectualização, que sujeita o produto artístico elaborado pela "inspiração" a um processo inteiramente objectivo — construção, ou ordem lógica, ou simplesmente conceito de escola ou corrente.


Não há arte intelectual, a não ser, é claro, a arte de raciocinar. Simplesmente, do trabalho de intelectualização, em cuja operação consiste a obra de arte como coisa, não só pensada, mas feita, resultam dois tipos de artista: a) o inspirado ou espontâneo, em quem o reflexo crítico é fraco ou nulo, o que não quer dizer nada quanto ao valor da obra; b) o reflexivo e crítico, que elabora, por necessidade orgânica, o já elaborado.


Dir-lhe-ei, e estou certo que concordará comigo, que nada há mais raro neste mundo que um artista espontâneo — isto é, um homem que intelectualiza a sua sensibilidade só o bastante para ela ser aceitável pela sensibilidade alheia; que não critica o que faz, que não submete o que faz a um conceito exterior de escola ou de moda, ou de "maneira", não de ser, mas de "dever ser".


Fernando Pessoa, in 'Carta a Miguel Torga, 1930'

Wednesday, November 10, 2010

Conhecer o Caminho é diferente de percorrer o Caminho





Sunday, October 24, 2010




















Calua,
painted in oil.


Saturday, October 23, 2010

Cria a Tua Própria Realidade

Sintetizo emoções... umas atrás das outras...
Sinto, de momento, que um turbilhão passa por mim num deserto estacionado e não sei o que irá levar nem o que vai deixar...

Caiem barreiras, pilares e torres de mim... pedras e pedras fazem barulho de desapego e no chão partem-se em pedaços e estilhaçam... e volto a olhar pelo muro que agora tem janelas... e já não é um muro.. e algumas emoções iluminam agora, esta casa... minha.
Mas vejo também que a cada dia, essas emoções também elas, comportam um azul triste, um amarelo radiante, um cinzento nebuloso, um rosa contagiante, e que entram pela minha casa e dão cor a uma de outra hora...
Se tanto rejubilo de alegria também  sucumbo de medo...
Hoje percebi que deito a Alma pela boca...exorcizo fantasmas e demónios, anjos e humanoides... se é que estas expressões explicam o que aqui temos dentro desta nossa "casa", e que a melhor forma de saber que são mesmo nossos e não de quem se cruza no nosso deserto de encruzilhadas... é enfrentarmo-nos, de uma vez!
Assim dispo as roupagens e afasto as que ia vestir ... novamente e novamente.
Cria a tua própria realidade, Agora, com o que és, e depois de mergulhares neste novo Mar, cria aquilo que queres para ti, naquele que era o deserto.

CaLua

Thursday, October 14, 2010

Jardim de Borboletas!

Quando depositamos muita confiança ou expectativas em alguém, o risco de nos decepcionarmos é grande.
O Bonito é saber ler quem temos à frente como quando olhamos para um espelho, simplesmente... olhar com tudo!
As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as delas.
Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que ter consciência de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.
As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.
Com o tempo, vou percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, preciso em primeiro lugar, não precisar dela, não precisar, no sentido da co-dependência e não num sentido romântico do termo.
Aprender a gostar de mim própria é uma necessidade, uma obrigação, um dever e uma luta... cuidar de mim, e principalmente aprender gostar de quem gosta realmente de mim. Quando digo aprender, não digo forçar, digo reaprender a amar... ou descobrir esse amor...
O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham para perto de mim.
No final de tudo isto, irei perceber, como começo agora a vislumbrar, não quem eu estava à procura, mas quem estava à  procura de mim!
CaLua

Tuesday, September 21, 2010

Só Quem Se Ama!

Viver uma verdadeira experiência amorosa é um dos maiores prazeres da vida. Gostar é sentir com a alma, mas expressar os sentimentos depende das idéias de cada um. Condicionamos o amor às nossas necessidades neuróticas e acabamos com ele. Vivemos uma vida tentando fazer com que os outros se responsabilizem pelas nossas necessidades enquanto nós nos abandonamos irresponsavelmente.


Queremos ser amados e não nos amamos, queremos ser compreendidos e não nos compreendemos, queremos o apoio dos outros e damos o nosso a eles.
Quando nos abandonamos, queremos achar alguém que venha a preencher o buraco que nós cavamos. A insatisfação, o vazio interior se transformam na busca contínua de novos relacionamentos, cujos resultados frustrantes se repetirão.


Cada um é o único responsável pelas suas próprias necessidades.


Só quem se ama pode encontrar em sua vida Um Amor de Verdade.

CaLua

Thursday, September 09, 2010

O Espaço com o Tempo

Existem espaços sem tempo
Tempos sem espaço
Espaços com tempos e tempos com espaços
Espaços vazios
Tempos completos
Espaço para nada
Tempo para tudo
Existem tempos com tempo
Espaços com espaços
Tempos sem espaços e espaços sem tempos
Tempos vazios
Espaços completos
Tempo para nada
Espaço para tudo.

Calua.

Tuesday, August 10, 2010

O Caminho Mais Directo

Considerando que a acção tinha sido ensinada previamente como a expressão de um "estado emocional" previamente estabelecido, é agora a acção quem predomina e é a chave para determinar o psicológico. No lugar de serem as emoções a conduzir a ação, Stanislavski passou a acreditar que era o contrário que ocorria: a ação propositadamente representada para chegar aos objetivos do personagem era o caminho mais direto para as emoções.

 Stanislavski - O Método

Tuesday, July 27, 2010

Vícios Anónimos

Estou aqui hoje, porque a minha vizinha, em vez de me deixar na escola, deixou-me aqui e pediu-me que falasse convosco… deve perceber que ninguém fala comigo…

Deve existir alguém, sentado numa grande poltrona a comandar isto tudo!
... mas eu não posso parar ... e não me drogo!

Cátia
(personagem)




O Grito Mudo De Cada Gesto Que Encontras Aqui
Também Tu Já O Experimentaste Um Dia, De Uma Forma, Ou de Outra, De Um Lado, Ou De Outro Do Muro.
São Anónimos, São Vícios Mas Não São Só Meus...
São nossos...



Trailer "Vícios Anónimos" - http://www.youtube.com/watch?v=GGRHV6P8bOY

Tuesday, July 20, 2010

O Céu da nossa Vida

(...) talvez que nunca antes a arte tenha sido compreendida tão profundamente e com tanta alma como no tempo actual, em que a magia da morte parece brincar em seu redor. (...) O que existe de melhor em nós resulta talvez do sentimento de épocas anteriores, que mal podemos agora atingir directamente; o sol já se pôs, perdemo-lo de vista, mas ilumina e inflama ainda o céu da nossa vida.

F. Nietzsche
Humano Demasiado Humano
Um Livro Para os Espíritos Livres

Monday, July 12, 2010

Encher Ar Saturado

...Mas a vida é mesmo uma "meretriz" que se vende aos caprichos mais cruéis...faz-nos sofrer sempre no momento em que a Paz parece querer chegar...!
Se há algo que aprendi sobre o "vazio" é que quanto mais o lamentamos mais o alimentamos.
Dá-lhe a volta, mas com convicção e depressa!
Brinca com ele quando te fizer infeliz, faz-lhe cócegas quando te estiver a fazer chorar; rabisca-o, arranca-o de ti, corrige-o sem arrependimentos, questiona-o até à exaustão; até o entenderes na sua essência mais básica, porque quando isso acontecer já não existe mais.
Nunca caias é no erro de tentar preencher um vazio: um vazio nunca se preenche, tentar isso é encher ar saturado com ar rarafeito; ou se acaba com ele e desaparece de vez ou ele torna-se eterno em nós e no que somos.
O que já existiu e não existe mais não se substitui, aprende-se a viver com a perda custe o que custar; tentar substituir o que nos deixou um vazio é uma injustiça para o que existiu e sentimos antes em nós. Preencher um vazio é dar-lhe uma importância que não merece...
Isto não é um conselho, é um pedido de mim para ti, por ti.
Tenta com todas as forças porque tu consegues e mereces!
MM

Wednesday, July 07, 2010

A tristeza tranveste-se de versos...

As lágrimas nas palavras perduram... como perdura o sentimento que as provocam... e quando não choram os teus olhos, choram as tuas palavras... e assim a tristeza tranveste-se.
Calua
Sem que me queira calar, surge um grito intenso em mim da realidade que me liberta, não és mais do que um vício...
Calua

Sunday, July 04, 2010

Vícios Anónimos/ Comuna Teatro de Pesquisa



Vícios Anónimos na Comuna Teatro de Pesquisa
Dia 26 de Julho 2010

Texto_Criação Colectiva (Elenco)

Encenação_João Rosa
Elenco_Ana Brilha, Filipa Marques, Patrícia Caeiro, Rute Moura,Teresa Macedo e Vera Venâncio.

Tuesday, June 29, 2010

Bonita e Breve

O amor é o ridículo da vida, procuramos nele uma pureza impossível, uma pureza que se está sempre a ir embora.
Sorte é aceitar essa vaga idéia de Paraíso que nos persegue, bonita e breve. Como borboletas que só vivem vinte e quatro horas.


Cazuza

Monday, June 28, 2010

Luas

Estou cansada de quem não me sente, de quem me toca abruptamente, de quem me deixa sem me ver, estou cansada do meu mau sentir, do meu mau amigo interior que também me seduz, que me cega a comunhão, estou cansada da solidão em ti, estou cansada do silencio de fel que em nada é nosso. O meu silêncio não é assim, o teu calar não é assim.
Pelo espelho sei porém perceber o que me preenche neste vazio que veio e me voltou e que insisto em chamar-lhe vazio e que também me enche, também me fala, também me ama, também me sabe, também me toca, também me é… que parece um vulcão que vive e morre, que preenche tudo com palavras primeiro, com o corpo depois… com o corpo todo… em empatia cerebral, em memórias conhecidas e caladas e num bem saber de sal e pimenta. O desejo que te cresce sempre que te morre, e que pensas que mataste, e porque não matas? Aquela sombra que enterro todas as manhãs e que renasce noutra noite de fugida... Um não saber, sabendo, que não quero, querendo onde em ti posso ser tudo porque quero e basta-me. Mas não é, não existe. É o que é que não é.

CaLua

Não Descanses

Recomeça....

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
(...)
Miguel Torga

Pureza Teatral

O propósito do teatro é fazer o gesto recuperar o seu sentido, a palavra, o seu tom insubstituível, permitir que o silêncio, como na boa música seja também ouvido, e que o cenário não se limite ao decorativo e nem mesmo à moldura apenas - mas que todos esses elementos, aproximados de sua pureza teatral específica, formem a estrutura indivisível de um drama.

Clarice Lispector

Thursday, June 24, 2010

Lapso da conciência entre Ilusões

Sonho. Não Sei quem Sou
Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Tuesday, June 22, 2010

O Que Importa!

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida esta vida que temos; E é nela que é preciso procurar o velho paraíso que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.

A Viagem de Miguel Torga

Sunday, June 20, 2010

What's New?



Luas

VÍCIO

Qualquer vício, é um mau hábito ou o único "grito" possível?

É um acto criticável ou um acto desesperado quando tudo antes falhou?
A verdadeira Felicidade tornou-se na Útopia da nossa sociedade e o Homem, incapaz de a encontrar sozinho, usa os mecanismos que essa mesma sociedade criou para manter esta Útopia.
Ter esperança num instante de pura Felicidade é o impulso maior de qualquer vício, mas não dizia Raoul Vaneigem que "a Esperança é a trela da submissão"!?


"Quarto de Lua Crescente
que entra pela tua janela
com a potência de 20 000 cavalos árabes
observa a tua nudez
enquanto confessas a última noite
...de Quarto de Lua Crescente
em que saciaste a tua ânsia
eterna de equilíbrio
utópico equilíbrio
pago com a carne que apodrece
de um corpo sobre pernas"
in múrmurios aos gritos
 
Por Marco Mourão

Notazinha: Gostei muito das tuas palavras Marco, obrigada! Partilho porque é como dizes, a partilha deveria ser o VÍCIO...

Monday, June 14, 2010

Há Coisas...

Há coisas na nossa vida, que quando surgem parecem-nos uma tragédia, mas que depois se vêem a revelar uma clarividência.

Luís M. S. Correia.

Sunday, June 13, 2010

Saio deste caminho e vou para outro....


Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores.

Khalil Gibran

Monday, June 07, 2010

COMUNA TEATRO E PESQUISA / DIA 26 DE JUNHO DE 2010


Vícios Anónimos
Comuna Teatro de Pesquisa, dia 26 de Junho, Sábado, às 20:00, na Sala 1.

Elenco: Ana Brilha, Filipa Marques, Patricia Caeiro, Rute Moura, Teresa Macedo e Vera Venancio.
Direcção e Encenação: João Rosa

Sinopse:
Todas elas anónimas, encontram-se à hora marcada. Antes deste instante não se conheciam, viviam no secretismo no seu vício privado, prazer fugaz ou refúgio que lhes adormecesse os sentidos. Seis mulheres com diferentes percursos de vida encontram-se para tentar falar pela primeira vez e ultrapassar os gestos repetitivos com que aos poucos têm destruído as suas vidas e a daqueles que as rodeiam. Procurando a causa da dependência para encontrar o caminho para a cura cada uma delas se expõe por inteiro relatando, entre a compulsão e a culpa, o que as levou até aquele instante. Na mesma sala se juntam assim seis vícios, seis vidas, por entre o álcool, a droga, o sexo, os fármacos, a cleptomania e a solidão, fala-se do impulso irracional, da vontade de romper com a repetição e do que a motivou. Através da sua voz conseguimos entrever o instante do primeiro furto, da disfunção familiar, da agressão psicológica, da violência do abandono e da busca da auto-estima. Cada uma destas histórias vem assim, em tom intimista, mostrar-nos a fragilidade do ser humano e a necessidade do outro.

A virtude é quando se tem a dor seguida do prazer; o vício, é quando se tem o prazer seguido da dor.
Margaret Mead

Thursday, June 03, 2010

POESIA URBANA


Mulher Vs Pessoa

Eu amo tudo o que foi

Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

 
Fernando Pessoa

Sunday, May 23, 2010


A Mãe Natureza também nos fala...

Saturday, May 22, 2010

Friday, May 21, 2010

Bailarinas Esvoaçantes

Soltei o verbo

Cansei de emudecer segredos
de soterrar meus medos
Cortei o pulso
abri a veia dos desejos
dei vazão aos meus impulsos
Não quero mais o amor em lampejos
Quero a vida escancarada e nua
esparramada como a luz da lua
no solo arenoso dos sentimentos
Quero viver intensos momentos














Levitar ao som melodioso dos meus pensamentos
numa liberdade arrojada
por bailarinas esvoaçantes, adornada.



By Úrsula Avner

Tuesday, May 18, 2010

Bocado Estrela.

(...)Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.

Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.


O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.
O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma,
e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.(...)
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.(...)


Excerto do poema
O Actor
de Herberto Hélder

Sunday, May 16, 2010

Betty Boop Cartoon Banned For Drug Use 1934



Boop - Boop - Pa - Doop - ui...

Interpor-me

Saber interpor-se constantemente entre si próprio e as coisas é o mais alto grau de sabedoria e prudência.

Fernando Pessoa

Saturday, May 15, 2010

Aprendam a amar a arte em vocês mesmos, e não vocês mesmos na arte.

Constantin Stanislavski

Thursday, May 13, 2010

Jogos Mentais

Nós estamos a jogar estes jogos mentais
A expandir as barreiras, a plantar as sementes
A fazer a guerrilha mental
A cantar o mantra: Paz na Terra!
Todos nós estamos a jogar estes jogos mentais eternamente
Algum tipo de loucura levanta o véu
E faz a guerrilha mental

Alguns chamam a isto a magia, a procura pelo Graal
Amor é a resposta
E tu sabes isso, com certeza
Amor é uma flor
Tens que deixar, tens que deixá-la florescer
Então continua a jogar estes jogos mentais


Acredita no futuro, tira o agora
Tu sózinho não podes vencer essas guerrilhas mentais
Absolutamente noutro lugar nas pedras da tua mente
Sim, nós estamos a jogar estes jogos mentais eternamente
A projectar as nossas imagens no espaço e no tempo.
Sim, é a resposta
E tu sabes disso, com certeza
Sim e entrega-te.
Tens que deixar , tens que deixar "rolar"
Então, continua a jogar estes jogos mentais
Faz o ritual: A Dança ao Sol
Milhões de guerrilhas mentais
Coloca o poder da tua alma na roda Kármica
Continua a jogar esses jogos eternamente
Eleva o espírito de paz e amor
Amor




Eu quero que faças amor, não faças guerra!

Eu sei que já ouviste isto antes.
John Lennon

Tuesday, May 11, 2010

I fear nothing. I am free.
"The thrill is gone
The thrill is gone away
The thrill is gone baby
The thrill is gone away
You know you done me wrong baby
And you'll be sorry someday
The thrill is gone
It's gone away from me
The thrill is gone baby
The thrill is gone away from me
Although, i'll still live on
But so lonely i'll be
The thrill is gone
It's gone away for good
The thrill is gone baby
It's gone away for good
Someday i know i'll be open armed baby
Just like i know a good man should
You know i'm free, free now baby
I'm free from your spell
Oh i'm free, free, free now
I'm free from your spell
And now that it's all over
All i can do is wish you well"
BB KING

Monday, May 10, 2010