Friday, April 16, 2010

Dois Corpos

Durante horas penso no que fazer, no que devo falar, ou não falar... perguntar-te... perceber o que sentes... porque eu sinto...
Admito que é muito facil ficar a imaginar mil e uma perguntas e deduzir duzentas mil e três respostas, mas também eu não sei o que fazer agora... quando uma situação que eu não criei - aconteceu.
Eu não me preparei para tudo.
As mudanças são inevitáveis na nossa vida. Implacáveis e implaneáveis.
As mudanças acontecem perante nós. Livres da nossa escolha em termos de conveniência. Elas apenas acontecem e nós só temos que as acompanhar e lidar com a vida que se altera à nossa frente, neste momento, agora.
As mudanças doem. Doem de várias formas. Doem por dentro como uma cobra larga e longa que nos aperta as entranhas, o peito, a alma e quase nos sufoca.
Doem por fora, quando o corpo sofre as consequências deste sofrimento intrínseco... quando temos medo... quando não sabemos o que estamos sequer a sentir... quando tudo é uma grande confusão... porque a cada minuto a nossa alma tem mais e mais defesas contra tudo e contra todos e não deixa... não quer deixar...
Consigo improvisar qualquer cena, menos aquelas... é sempre assim...
Eu acostumei-me com a dor de não ter, mas não sei viver sem ter. Sei o que quero, e posso não saber tudo, nem como, mas sei que ninguém sabe... não existem receitas...
Mas estou num ponto da minha vida em que sinto não ter necessidade de recalcar ou embutir coisas para dentro de mim que não servirão de nada senão as partilhar.
Também sei que por vezes ocorrem mal entendidos, no entanto, sempre entendemos alguma coisa, porque até a não comunicação, é comunicação, é impossível não comunicar, e blás há muitos…
Continuando…
Eu não quero viver de fantasias, quero viver de realidades fantásticas, custe o que custar e ouvir o meu Ser, mas ouvi-lo realmente, não adultera-lo e não quero entrar em ondas vazias, nem caminhar por trilhos escuros de olhos vendados...
Não…porque nesta Viagem as pessoas não são todas assim: eu, pelo menos, não sou assim… este tipo de vivências acabam com a nossa capacidade de partilha e de paz e em mim não encaixam… Por mais que lute e vou continuar a lutar por fazer o trabalho que amo, teatro, trabalho com e para os outros, inventar, instalar, pintar, escrever, produzir, actuar, brincar… dar, e sei lá o que a vida me vai ensinar mais ainda... também não vou deixar de acreditar que é possível amar.
Quando digo amar, não o digo no sentido romântico, ingénuo, fantasioso… NÃO!
Nada disso… sei que é possível encontrar alguém que realmente me ame pelo que sou, genuinamente e que também mantenha os seus objectivos e sonhos activos.
Que se saiba vincular, valorizar, cuidar, dando sempre qualquer coisa, ora mais hoje ou menos amanhã, mas que dê, que saiba cuidar de verdade.
O Amor é sempre uma surpresa e algo exclusivo e isso é bom.
Em contrapartida, sei que há muita gente por aí sozinha e que prefere esse caminho – o não afectivo, mas também sei que existem pessoas que querem amar pura e simplesmente, sem armadilhas…Quando se quer, constrói-se sem pensar muito, mal hoje, melhor amanhã, devagar, como for… mas faz-se, dá-se a entender ao outro que ele é querido e desejado por actos, por mais difícil que isso possa ser… não é?
Porque quando tal “diálogo” acontece e duas pessoas percebem, vem a dúvida... até porque não está disposto na lei da vida que duas pessoas se saibam amar. O normal é as duas não saberem.
Alguns construíram esta muralha e pularam para o outro lado. Este outro lado está vazio, sem caminhos, está deserto, cheio de perdidos e não achados e quanto mais caminhamos por esse lado mais longe estamos do muro e corremos o risco de esquecer o caminho de volta e ganhamos medo em tentar voltar para trás. Isto porque durante este caminho não existiu “alegria afectiva” e sim desilusões, rejeições e vazios e por isso temos medo de voltar… Mas em frente não há nada… bom…há sim! Há mais disso… apenas…
Eu não quero destruturar-me e perder a fé nos outros, e perder a fé no amor que um homem pode sentir por uma mulher e vice-versa. Não quero e não o vou fazer. Se saltei ou cai do muro, eu ainda estou agarrada a ele, ainda lhe consigo tocar… Continuo segura ao muro... e se num passado recente me senti magoada e com dores não são elas nem ninguém que me fará largar este meu muro, para depois caminhar sozinha e sem rumo afectivo?... Não! Não, vou andar em frente, basta-me subir e pular outra vez, ou na subida encontrar uma mão que me puxe com a força necessária e justa. A Tua Mão...
Sempre disse o que me vai na alma, sempre…
Eu não sou esta ou aquela e existem por aí muitas... muitas pessoas, mas eu não sou essa e a outra, e por isso é mais digno, para mim falar… sempre o foi...
Sim, sou já uma mulher com 32 anos e não apenas… nada se resume a isto… e não quero viver a minha vida aos tombos ou em balelas vazias. Sou adulta e quero encontrar alguém adulto também.
Todos temos medo… é a consciência de um adulto cada vez mais adulto…
Mas há medos que não têm sentido e que uma pessoa, há medida que envelhece começa a acreditar neles de verdade e depois “adoece” e conspurca o que sentiu de bom… completamente.
Expectativas... não obrigada!
Prefiro mil vezes saber que estás, de alguma forma, do que não estás...
E os Dois Corpos Entrelaçados...
Mas também me pergunto... duzentas mil e três coisas e apenas me respondo a mil e uma...

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